René Siufi, que defende a fazendeira Beatriz Rondon, diz que ela se arrependeu e não promove safáris em busca de onças há 10 anos
Apontada pela Polícia Federal como a pessoa que coordenava os safáris de caça a onças no Pantanal de Mato Grosso do Sul, a fazendeira Beatriz Rondon – proprietária da fazenda Santa Sofia – herdou da família a tradição de fazer expedições de caça aos animais, se arrependeu e não mata nem incentiva a caça de onças há 10 anos. Essa é a versão do seu advogado, René Siufi.
Beatriz é sobrinha-neta do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que se tornou personagem da história do Brasil por liderar expedições à região Centro-Oeste. Ele foi um dos pioneiros na colonização de vastas regiões do País, levando linhas telegráficas a Estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e negociando com os índios que viviam na região.
A caça clandestina foi descoberta pela Polícia Federal há duas semanas, na operação Jaguar 2. A ação foi desencadeada depois que os policiais receberam de um turista americano um vídeo mostrando detalhes da caçada.
“Não era só a família dela que já caçava, outras também. Era um costume que foi passado de geração para geração, mas há pelo menos 10 anos que a Beatriz não faz mais isso. A última vez foi essa expedição que consta no vídeo que se tornou público”, afirmou Siufi.
O vídeo mostra um grupo de turistas armados com espingardas, acompanhado pelo caçador de onças Antônio Teodoro Melo e por Beatriz, indo em busca de duas onças – uma parda e outra pintada – que acabam mortas pelos tiros. Num dos trechos, quando a onça pintada é abatida, a proprietária da fazenda Santa Sofia aparece e fala para a câmera que “é uma fêmea muito linda, mas estava matando o meu gado”.
De acordo com Siufi, Beatriz deixou de participar dos safáris quando passou a defender causas ligadas ao meio ambiente. Ela presidiu a Sociedade para a Defesa do Pantanal, uma organização não governamental de defesa do meio ambiente. Além disso, Beatriz conseguiu com que a fazenda Santa Sofia fosse reconhecida como uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) – o que a obriga a conservar a diversidade biológica da área. O advogado também nega que Beatriz seja a pessoa responsável por organizar os safáris. “Isso foi inventado, muitas das imagens que aparecem não pertencem à área onde está a fazenda”, diz o advogado.
A polícia
Para o delegado federal Alexandre do Nascimento, a versão do advogado não convence. “Ela usava o cunho ambiental para mascarar a aberração que cometia, junto com outros caçadores”, afirma ele. Nascimento diz que Beatriz só escapou de ser presa por não ter sido pega em flagrante, mas que, logo que a perícia nos materiais apreendidos da fazenda for concluída, irá pedir a prisão preventiva da fazendeira, de Antônio e de outras pessoas que aparecem no vídeo.
Segundo Alexandre, todas as pessoas que aparecem no vídeo podem responder por pelo menos quatro crimes: contra a fauna brasileira, posse de arma de uso restrito, formação de quadrilha e tráfico internacional de armamentos.
O delegado disse acreditar que o esquema funcionava há pelo menos 15 anos. A maior parte dos turistas que participava dos safáris era formada por estrangeiros, vindos dos Estados Unidos e Europa. Estimativas do Ibama apontam que eles pagavam de US$ 30 mil (R$ 49 mil) a US$ 40 mil (R$ 64,8 mil) para praticar expedições de caça aos animais.
Beatriz ainda não foi ouvida pelo delegado. Segundo Siufi, ela está muito abalada e, por isso, prefere não dar entrevistas.
Foto: Divulgação/Polícia Federal Carcaças de animais apreendidas pela Polícia Federal no Pantanal de Mato Grosso do Sul |
Helson França, iG Mato Grosso
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