O discurso do Brasil em Copenhague

Daqui a menos de um mês, em Copenhague, na Dinamarca, representantes de 192 países vão se reunir com o objetivo de encontrar uma saída para o problema que tanto atemoriza os cientistas: o aquecimento da Terra. O dilema da maior parte dos países é como poluir menos sem minar seus planos de crescimento.


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Para andar de automóvel, alimentar-se, ir ao cinema, realizar as tarefas rotineiras da vida, a humanidade lança no ar 49 bilhões de toneladas de gás carbônico por ano. A quantidade de fumaça aumenta a cada dia, na razão direta da busca das nações por desenvolvimento. Novas estradas, fábricas e automóveis criam riqueza, mas aceleram enormemente as emissões. A engrenagem que trabalha em busca da prosperidade é a mesma que arrasta o planeta para o caldeirão.


Há uma quase unanimidade entre a comunidade científica de que, a cada década, a Terra fica 0,2 graus centígrados mais quente. A estimativa dos cientistas reunidos pela Organização das Nações Unidas para estudar o assunto é de que até o fim deste século a temperatura média terá subido entre 1,8 e 4 graus centígrados, com consequências que variam do desconforto ao cataclismo. Esses cientistas se colocaram de acordo que é preciso fazer algo para conter o ritmo do aquecimento global.


O dilema da maior parte dos países é como poluir menos sem minar seus planos de crescimento. O fenômeno climático que se quer combater é pouco conhecido mas as consequências econômicas e sociais de limitar o crescimento são bem conhecidas e trágicas. Daí a resistência dos países em anunciar metas claras de redução das emissões de CO2. No Brasil, esse debate está igualmente empacado. O único compromisso real firmado até agora pelo governo foi com a redução do desmatamento da Amazônia em 80%, até 2020. Pode parecer uma proposta vazia, já que o país não faz mais do que sua obrigação de preservar os dois terços que abriga do maior repositório da biodiversidade do planeta. Mas não é uma tarefa fácil.


Ela envolve um esforço governamental grandioso e o desembolso de 100 bilhões de reais em dez anos. Isso é quase 15 vezes o valor da transposição do Rio São Francisco, para fazer uma comparação simples. É também uma medida importante. Sozinha ela é capaz de reduzir em 20% das emissões brasileiras. E o Brasil figura em quarto lugar na lista dos maiores emissores de carbono justamente por conta do desmatamento. Daí o acerto da decisão já tomada.


O debate acalorado, por assim dizer, se dá em torno do que fazer além. Existem pelo menos sete propostas circulando, defendidas por diferentes ministérios, por segmentos da indústria, agronegócio e organizações da sociedade civil. São dois os principais contendores: o ministério do Meio Ambiente e o Itamaraty. O ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, tem o apoio das ONGs para sua ideia de colocar logo na mesa de Copenhague metas claras. Números com os quais o país vai se comprometer. Basicamente defende uma redução de emissões de gases de efeito estufa de 40%, tomando como referência as emissões brasileiras em 2005.


A posição do Itamaraty, com apoio da Casa Civil, é menos definitiva. O que os diplomatas querem é que esta segunda metade da proposta brasileira se restrinja a um plano de ações sem compromisso com resultados. Se nem tudo sair como o esperado, paciência. É com essa versão mais flexível que o presidente Lula deu indicações de concordar, na reunião preparatória para Copenhague que realizou com os ministros e técnicos, na semana passada. A decisão final do que levar para a reunião na Dinamarca será anunciada no próximo dia 14.


O cenário mais provável, na visão de quem acompanha de perto essa negociação, é que no todo as ações brasileiras signifiquem uma redução entre 38% e 40% das emissões, sendo que apenas metade disso como compromisso formal. A dupla Lula e Dilma Roussef carrega a fama de torcer o nariz para as questões ambientais. Com a entrada da ex-ministra Marina Silva no jogo eleitoral, como uma espécie de porta-bandeira da causa ambiental brasileira, Lula e Dilma têm se virado para desfazer a imagem de insensibilidade. Não é por acaso que a ministra será a chefe da delegação do país em Copenhague. Anunciar uma meta ousada na reunião pode ajudar a pintar de verde a candidata do Planalto.

veja.com.br

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